Testemunho: Susana Morais - a primeira noite com o bebé
A primeira noite com o bebé
Um dos momentos mais marcantes na vida de uma mãe é a primeira noite na maternidade. Aquele momento em que apesar de adorarmos todos, ficamos felizes porque as visitas acabam (e até o papá se vai embora), e o momento possa ser só nosso, para continuar de certa forma a gravidez. Chega então aquele silêncio da noite, que mesmo com alguns choros de outros quartos, soa como um silêncio nunca outro igual, apaziguador, nostálgico, relaxante.
É sobre o olhar da primeira lua que aconchega o nosso bebé que ganhamos a noção do que realmente aconteceu e vai acontecer. Começa o medo. É ali que estamos por nossa conta. Não importa se é o primeiro ou não: é sempre como uma daquelas caixas-surpresa que de repente se abrem e salta algo para nos assustar. Nós sabemos que vai saltar algo, mas mesmo estando à espera, quando salta o susto é inevitável.
Olhamos para aquele ser, tão nosso. Afinal de contas fizemos aquele pedaço de amor do nada, gerámos cada centímetro de pele. A melhor obra que algum dia imaginamos fazer. Vem com uma etiqueta a dizer frágil, mal ele sabe que nessa noite nós também somos.
Cantamos músicas que, mais tarde quando as voltarmos a ouvir, nos fazem esboçar um sorriso sem nos apercebermos. Ficamos a observá-lo no sono, a fazer festinhas e a agradecer sem fim. Dançamos pelo quarto fora para que não chore, e não haverá primeira dança mais marcante. Choramos de alegria e de medo.
Sentimos uma sensação estranha quando por força do hábito acariciamos a nossa barriga. Ele está ali, todos os planos de engravidar, todos os planos depois de engravidar, as roupas, a decoração do quarto, o nome escolhido... está tudo ali. Naquele bebé que está mais próximo de nós do que alguma vez alguém já esteve e que vai continuar pela vida fora.
Naquela noite dá tempo para tudo, para repassar a gravidez e o parto nas nossas cabeças, para imaginar o futuro, e para aproveitar o momento tão nosso. Tenho a certeza que é daquele silêncio, aposto que é capaz de parar o tempo.
Agora as minhas filhas estão a crescer tão rápido, que por vezes volto a querer reviver essa primeira noite na maternidade.